quarta-feira, 6 de agosto de 2008

60 dias - O grotesco e a cobertura



O GROTESCO E A COBERTURA
Sempre considerei de mau-gosto a preferência das editorias de política por imagens, no mínimo, desconcertantes dos personagens do noticiário. Por que, por exemplo, publicar uma foto do Gilberto Gil fazendo careta em vez de discursando, cantando, o que seja?

É fato que o gosto pelo grotesco faz parte da psique humana, como nos ensina a psicologia, mas séculos de processo educativo (ou repressivo, que seja) fez com que a sociedade ocidental (não posso falar pela oriental) criasse alguns limites a essa característica de nossa mente.

Ontem, 5 de agosto, o Diário do Nordeste ultrapassou um desses limites. O modo como os candidatos foram apresentados no infográfico sobre o resultado da primeira pesquisa Ibope/Verdes Mares foi não apenas de mau-gosto, mas ofensivo, desrespeitoso.

Optou-se pelo mais fácil em detrimento de um trabalho mais bem elaborado e executado (caso dos candidatos de papel de O Povo). Até mesmo a utilização das surradas caricaturas poderiater resultado em algo esteticamente mais aceitável.

A manipulação da foto da prefeita-candidata Luizianne Lins, de tão trash, acabou deixando-a a cara do Sloth do filme The Goonies, título bastante familiar aos telespectadores da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa.

É de lamentar.




Inspiração? Imagens: Reprodução


Agora vou entrar na área que anda me fascinando cada vez mais nos últimos meses: o design de jornais.

O PACOTE DA INFORMAÇÃO

Quanto ao seu caráter informativo, o infográfico apresentado pelo Diário continua pecando. Ao tentar fugir das representações tradicionais dos resultados das pesquisas, o jornal da família Queiroz optou por utilizar uma tabela onde os números obtidos por cada candidato é representado por bonequinhos. Quanto mais bonequinhos, mais intenção de voto. Entretanto, em vez dos bonequinhos estarem todos juntos e os de cada candidato com uma cor diferenciada (como nos gráficos utilizados para mostrar a divisão dos assentos do Congreso), os bonecos estão numa tabela. E não é de hoje que os designers de informação sabem que as tabelas não são a melhor maneira de representar pesquisas de opinião.

Hoje, o Diário insistiu nas tabelas. Um exemplar imenso ocupava cinco colunas da página 6. O resultado visual foi algo parecido com indicadores econômicos e que não "convida" o leitor a conhecer os dados. O leitor escaneador (scanner), então, dificilmente se detirá em algo tão confuso. Não houve a devida preocupação com a readability (não sei traduzir; seria algo como "leitura") da peça.

Enquanto isso, o jornal O Povo consegue um resultado muito superior utilizando o super tradicional gráfico de pizza.


Infográfico do dia 5: Fotos grotescas e apresentaçao deficiente. (Clique para ampliar)

Tabela do dia 6: Confusão (Clique para ampliar)

O Povo: Pizza ainda é mais eficiente. Imagens: Reprodução (Clique para ampliar)


No clipping do E-leitor você encontra todas as matérias sobre as eleições deste ano em Fortaleza publicadas pelos jornais Diário do Nordeste, O Estado e O Povo, e também por portais de nacionais, desde o dia 1º de agosto.

6 comentários:

  1. realmente, o gráfico tá mal resolvido em todos os sentidos, não tinha reparado nisso. confuso e feio =p

    mas sim, ''readability'' não seria legibilidade?

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  2. Bruno, eu não havia lembrado de "legibilidade", mas penso em algo mais complexo, algo mais funcional, entende?

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  3. gente....eu nao tinha lido, pensava que voces, brincando, tinham feito as caricaturas! meu deus!!!

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  4. Qual o propósito dessas bizarrices? "O Povo" optou por uma solução bastante simpática e criativa para os candidatos.

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  5. Gostei da continuidade do texto, Neves! Mas também me pergunto por que essa opção pelo feijão-com-arroz mal-feito... Falta de dinheiro é que não foi.

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  6. Débora, eu acho que, antes de tudo, falta ao DN uma equipe de arte mais inventiva; mas aí já não sei se por falta de pessoal qualificado ou de vontade da diretoria da empresa.

    Segundo, há uma clara expressão da opinião do jornal sobre a classe política. Algo como: "Vocês tão vendo esse povo bonitinho nos santinhos, nas fachadas dos comitês, pois é, eles são é desse jeito aqui, ó: [o infográfico]". O que nos remete àquela velha cantilena cantada pela mídia de tempos em tempos de que todo político é corrupto etc.

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