A equipe de
E-leitor esperava que esse tipo de prática fosse acontecer com maior intensidade apenas daqui a algumas semanas, quando estivéssemos mais próximos do auge da campanha. No entanto, novas ações de contracampanha já vêm acontecendo em Fortaleza. A primeira delas vista pela nossa equipe aconteceu no cruzamento das avenidas 13 de maio com Universidade, no primeiro semestre desse ano. A panfletagem do
Movimento dos Eleitores de Luizianne Arrependidos (Mela) contra a gestão da atual candidata Luizianne Lins (PT) era confusa.
Na época, após termos recebido o material que distribuíam, questionamos e algumas das pessoas que participavam do movimento não souberam explicar com clareza o porquê de estarem ali. Quando questionados sobre algum apoio político ou responsabilidade pelo movimento, respondiam que aquela era uma ação dos próprios eleitores. Sem referência para contato com alguma liderança do movimento, o melhor que pude conseguir sobre o grupo foi uma
notícia no site do jornal
O Povo e alguns
comentários em páginas de notícias, a maior parte assinados por Edivaldo Diogenes (um notável comentarista de notícias em páginas jornalísticas), que já em 2007 antecipavam seu surgimento.
Hoje fui surpreendido por notícias nos jornais
Diário do Nordeste,
O Estado e
O Povo sobre cerca de oitocentos cartazes e cem outdoors espalhados na nossa cidade. Assinadas por um grupo autodenominado
Convenção de Ministros das Assembléias de Deus Unidas do Estado do Ceará (Comanduec), as peças exibem a mensagem "Luizianne é contra a bíblia e o povo de deus" e foram fixados em diversos lugares da cidade, como nos muros das Avenidas Domingos Olímpio, José Bastos e Dedé Brasil, segundo a matéria do
Diário do Nordeste.
Desta ação, o que mais me assustou foi a grandiosidade.
Oitocentos cartazes. Cem outdoors. Espalhados por Fortaleza.
Isso custou quanto?
Não acredito que estas ações tenham sido espontâneas do eleitor. Se fossem, certamente contemplaríamos cartazes, outdoors, panfletagens e caminhadas fora do período próximo das eleições. E se realmente fossem, seria bom ver todo esse engajamento pelas ruas, imaginem só!
Notando a confusão de quem representa essas duas ações (observadas também nas matérias sobre o assunto publicadas no
Diário do Nordeste e no
O Estado) se torna evidente: isso é provavelmente contracampanha.
Ações de contracampanha só tendem a espalhar caos na cabeça do eleitor menos informado e desordem no cenário de campanha. É como jogar uma "bomba de pânico" na cidade. A regulamentação da propaganda eleitoral existe para possibilitar ao eleitor ser informado de que aquilo que ele está lendo, ouvindo, assistindo ou recebendo é propaganda eleitoral, seca e objetiva.
Não estou aqui pregando que ninguém mais tem direito de manifestar sua opinião e se organizar pra isso. O que quero deixar aqui é uma espécie de insatisfação tal qual sinto quando, sem querer, acabo consumindo alguma peça publicitária de marketing viral, por exemplo. Seguir a lei e fazer a propaganda eleitoral nos moldes oficiais estabelecidos torna tudo mais óbvio, evitando possíveis enganos para essa escolha tão séria que é o nosso voto.
Notas:* A tal
Convenção de Ministros das Assembléias de Deus Unidas do Estado do Ceará (Comanduec) não possui site e nem contato fácil. Uma busca rápida no google revelou um post do blog de política do
O Povo noticiando a distribuição de 500.000 cartilhas pela Comanduec pedindo votos a candidatos, entre eles o ex-governador Lúcio Alcântara e o candidato Moroni Torgan (DEM), na época candidato ao senado. O post está sob o título "Religião e Poder" e pode ser lido
aqui.
* Citada neste post, a matéria do jornal
O Estado obteve uma apuração que resultou num diferencial entre o que foi noticiado entre os jornais locais. Revelou que no cruzamento das avenidas Domingos Olímpio com Aguanambi, a ação de fixagem dos cartazes da COMANDUEC foi feita às duas da manhã e de maneira rápida. Também relata um curioso incidente durante o contato com o grupo.