segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A fumaça negra da contracampanha


A equipe de E-leitor esperava que esse tipo de prática fosse acontecer com maior intensidade apenas daqui a algumas semanas, quando estivéssemos mais próximos do auge da campanha. No entanto, novas ações de contracampanha já vêm acontecendo em Fortaleza. A primeira delas vista pela nossa equipe aconteceu no cruzamento das avenidas 13 de maio com Universidade, no primeiro semestre desse ano. A panfletagem do Movimento dos Eleitores de Luizianne Arrependidos (Mela) contra a gestão da atual candidata Luizianne Lins (PT) era confusa.

Na época, após termos recebido o material que distribuíam, questionamos e algumas das pessoas que participavam do movimento não souberam explicar com clareza o porquê de estarem ali. Quando questionados sobre algum apoio político ou responsabilidade pelo movimento, respondiam que aquela era uma ação dos próprios eleitores. Sem referência para contato com alguma liderança do movimento, o melhor que pude conseguir sobre o grupo foi uma notícia no site do jornal O Povo e alguns comentários em páginas de notícias, a maior parte assinados por Edivaldo Diogenes (um notável comentarista de notícias em páginas jornalísticas), que já em 2007 antecipavam seu surgimento.

Hoje fui surpreendido por notícias nos jornais Diário do Nordeste, O Estado e O Povo sobre cerca de oitocentos cartazes e cem outdoors espalhados na nossa cidade. Assinadas por um grupo autodenominado Convenção de Ministros das Assembléias de Deus Unidas do Estado do Ceará (Comanduec), as peças exibem a mensagem "Luizianne é contra a bíblia e o povo de deus" e foram fixados em diversos lugares da cidade, como nos muros das Avenidas Domingos Olímpio, José Bastos e Dedé Brasil, segundo a matéria do Diário do Nordeste.

Desta ação, o que mais me assustou foi a grandiosidade.
Oitocentos cartazes. Cem outdoors. Espalhados por Fortaleza.
Isso custou quanto?

Não acredito que estas ações tenham sido espontâneas do eleitor. Se fossem, certamente contemplaríamos cartazes, outdoors, panfletagens e caminhadas fora do período próximo das eleições. E se realmente fossem, seria bom ver todo esse engajamento pelas ruas, imaginem só!

Notando a confusão de quem representa essas duas ações (observadas também nas matérias sobre o assunto publicadas no Diário do Nordeste e no O Estado) se torna evidente: isso é provavelmente contracampanha.

Ações de contracampanha só tendem a espalhar caos na cabeça do eleitor menos informado e desordem no cenário de campanha. É como jogar uma "bomba de pânico" na cidade. A regulamentação da propaganda eleitoral existe para possibilitar ao eleitor ser informado de que aquilo que ele está lendo, ouvindo, assistindo ou recebendo é propaganda eleitoral, seca e objetiva.

Não estou aqui pregando que ninguém mais tem direito de manifestar sua opinião e se organizar pra isso. O que quero deixar aqui é uma espécie de insatisfação tal qual sinto quando, sem querer, acabo consumindo alguma peça publicitária de marketing viral, por exemplo. Seguir a lei e fazer a propaganda eleitoral nos moldes oficiais estabelecidos torna tudo mais óbvio, evitando possíveis enganos para essa escolha tão séria que é o nosso voto.


Notas:
* A tal Convenção de Ministros das Assembléias de Deus Unidas do Estado do Ceará (Comanduec) não possui site e nem contato fácil. Uma busca rápida no google revelou um post do blog de política do O Povo noticiando a distribuição de 500.000 cartilhas pela Comanduec pedindo votos a candidatos, entre eles o ex-governador Lúcio Alcântara e o candidato Moroni Torgan (DEM), na época candidato ao senado. O post está sob o título "Religião e Poder" e pode ser lido aqui.

* Citada neste post, a matéria do jornal O Estado obteve uma apuração que resultou num diferencial entre o que foi noticiado entre os jornais locais. Revelou que no cruzamento das avenidas Domingos Olímpio com Aguanambi, a ação de fixagem dos cartazes da COMANDUEC foi feita às duas da manhã e de maneira rápida. Também relata um curioso incidente durante o contato com o grupo.

7 comentários:

  1. Na verdade, Yuri, eu utilizaria um termo da J. K. Rownling em vez da sua "bomba de pânico": bomba de bosta.

    Já quanto a essa associação de pastores da Assembléia de Deus, a Comanduec, é bastante oportuno lembrar que o candidato a prefeito Neto Nunes é justamente um pastor da tal denominação evangélica e, portanto, deve fazer parte da Comanduec. O Ministério Público Eleitoral deve, agora, cumprir seu papel e investigar o que há por trás dessa campanha maciça duma tal Convenção até agora inexpressiva.

    Se um candidato não pode realizar campanha através de outdoors, uma instituição ligada não pode ser utilizada por um candidato para atacar um concorrente pela mesma mídia. É uma conduta no mínimo anticristã.

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  2. E eu soube que a Patrícia Saboya foi à igreja Assembléia de Deus Canaã e aceitou Jesus. A pessoa que contou isso à minha irmã disse isso neste fim de semana.

    Vamos ver como será.

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  3. ainda bem que ela aceitou Jesus a tempo.

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  4. marketing viral = campanha política disfarçada? pois como diz um célebre comentador da lista do d.a.t.a, isso pra mim se chama picaretagem. saiu uma notícia ontem/hj de que a justiça já proibiu essas manifestações sabe-se lá de quem.

    ass: bruno reis, sem paciência de me logar.

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  5. Engraçado meterem o nome justamente do PSOL nessa história do Mela. Pode até ser que sejam eleitores/militantes desavisados do partido mesmo, mas me parece outra jogada suja pra bater no Renato Roseno por tabela. Afinal, que candidato quer ter seu nome ligado a uma iniciativa, no mínimo, duvidosa como essa? O marketeiro que inventou isso deve estar se achando um gênio: respingou bosta em dois candidatos da esquerda de uma vez só!

    Quanto ao Comanduec, isso me parece uma missão para Júlia Miranda, hehehe! Ela faria miséria estudando esse fenômeno!

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  6. No fim das contas, pelo que li esta semana, o tal pastor Shelley Macedo, representante da Comaduec, está sozinho. O Neto Nunes é apoiado por outras três entidades da Assembléia de Deus e até criticou Macedo.

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